REPARAÇÃO

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Eu, cansado de lagrimas irreversíveis, permaneço, O mundo em sua linguagem rouca dos oceanos olha-me, Atravesso como se fosse nuvem o silencio irremediável, Pequenas profundidades ao meu redor, Sublimes escolhas sinceras, Margens de piedosos instantes, O mundo é um trem inevitável E eu dentro dele Permaneço sentado nos fundo claro-escuro dos sussurros, O verso mais fiel a si mesmo é o verso irretocável, Estou cansado de costurar os segundos, Não consigo conter o sangramento do meu tempo-espaço, Finalmente eu, longe do centro da rua solitária a si, Finalmente eu, distante de todas as mãos calorosas, Finalmente eu, a quilômetros do chamado pelo nome, Alguns poemas afundam minha cabeça, Outros passam despercebidos como as auroras que falham, Na mais profunda noite meu sentidos Esperam os passos do infinito, Interrogações se esculpem por mim E como numa febre Eu deliro de infinitas duvidas que já são mundos por si só, Odeio o mar por não estar nele, afogando-me, Odeio o deserto por não estar nele, perdido, Odeio-me, por estar aqui, Frente a frente com o poema sem estar nele, Estou do outro lado, sou o poema, Sou as pernas das vogais e os braços da consoante E meu corpo é o corpo de um verso E minha alma existe quando existe a poesia, Eu, cansado de lagrimas irreversíveis, permaneço, O solitário crepúsculo é um sonho desfeito, Cartas sendo escritas, mas jamais lidas É um sonho abandonado, Musicas empoeiradas pela memória Mas jamais revisitados são sonhos inacabados, É desnecessário dizer que ainda há o grito? Que ainda há os passos por caminhos inesgotáveis? Que ainda há um resto de rosto voluntariamente verdadeiro? A mão no rosto do poeta encima do seu poema que caminha É um horizonte inabalável, Aquele soluço que vira lagrima E que mancha as palavras É uma tarde que permanece cinza, Às vezes o mundo ao redor é um espectro, Às vezes eu sou o espectro que assusta o mundo, Apenas o meu mundo, E na hora que surgir Na eternidade perdida Em algum canto do universo O irrepreensível sentido para existência, Quero existir e não apenas permanecer.

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

2 comentários:

  1. Querido poeta!
    O Reparação é incrível...adorei os versos, "O verso mais fiel a si mesmo é o verso irretocável"..como tu consegues? Maldoror e eu escreveremos livros juntos,já conversamos sobre isso, pensamos que o UIVO também terá seu livro,seus livros...
    Até!
    Beijos na alma!

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  2. Outra coisa, tens que entrar neste blog;http://orvalhodefogo.blogspot.com/2008_06_01_archive.html é fantástico!
    Tem uns filmes super irreais, imagens, versos...entra ai!

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