TRANSINQUIETAÇÃO

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Fotografia de Rodney Smith



alcanço o impossível com minha alma,
ate ela esgota-se de infinitos.
nunca fui mais do que a poça de lama que afunda o mundo,
a memória persiste em dezenas de pequenas gotas de chuva,
meu corpo começa a fabricar pequenas alucinações de cólera,
na praça, meus amigos com bocas enormes
abocanham pequenas formas de universo e
preparam uma bomba dentro do útero da realidade,
persiste minha memória
o raio de luz que atravessa meus tímpanos
ensurdece meus poemas na noite gélida,
persiste minha memória
a palavra nunca dita é a palavra mais decorrente no dialogo,
existe um assombro em cada intervalo de pálpebra,
existe na contra mão de um segundo
um instante de sonho realizado,
por que eu preciso mergulhar no oceano
para ser levado pelas nuvens?
a estrada perdida só esta perdida fora de si mesmo,
destroço o inconsciente.
persiste minha memória
aqui permaneço?
flutuando sobre a pagina a procura da palavra?
a melhor maneira de lutar contra as asas da
inércia inevitável é se vestido de inalcasabilidade,
meus sonhos viram nuvem nesse momento
ha um pequeno universo paralelo
nos olhares mais tristes da manhã e
isso é um grito gritado para dentro.
quantas almas gritam ao mesmo tempo dentro de uma poema?
quantas doses de acido onírico e
cometas são preciso para ser tão racional como meu chefe?
quantos versos precisarei construir
para chegar ao infinito?
fabrico a matéria prima e
os poemas a devoram inesgotavelmente,
depois descubro que na verdade não passei de
uma chuva sobre a pagina em branco
rasguei-a e só.
persiste minha memória.
afundo como uma lança no coração impossível,
desço as paredes do cosmo apenas com minha saliva.
adormeço sobre a calçada do inalcançável
para tremer de frio como a madrugada,
me enrolo no cobertores do acaso
para acreditar nas escolhas mais profundas,

frio na alma e no coração,
certeza absoluta da irrealidade,
preciso alucinar minha sombra para ela fazer sombra
ao meu poema e abrigar meu rosto apagado,
preciso reescrever os versos da minha alma todos os segundos,
navego por oceanos invisíveis
onde só vejo a mim mesmo e nem sempre,
ando pelos desertos da subsconciecia
transsurreal e nada encontro.
procuro seres imaginarias nas
tuas palavras mais verdadeiras,
procuro pequenas mortes no teu silencio,
os versos mais solitários são os versos mais longos,
combato a inconsciência antes de mergulhar
nos arquivos metafísicos de onde trabalho,
planejo evitar minha queda ha mais de um século de segundos
em todos os instantes e sempre fracasso,
quantos fracassos são possíveis a um poeta?
quantas memórias eu preciso juntar para morrer em paz?
quantos amigos preciso possuir para não sentir mais irreal?
de quantos poemas preciso para montar uma arca flutuante
e engravidar Deus por baixo?
ah persiste minha memória
ha muito tempo não leio os poemas de um grande amigo e
juntando com outras ausências forma uma ausência verdadeira,
corro oposto a mim mesmo e paro entre os mundos.
às vezes as palavras esticam pela distancia próxima entre as almas e
elas esticam para alcançar as mãos frágeis do destino,
ah quantas vezes preciso alcançar a mim mesmo
para ter certeza da min ha própria transcendência?



By João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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