Yomango

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INVENTAR NOVOS GESTOS
Yomango Barcelona

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Trata-se de inventar novos gestos
Que, em sua repetição, abram
Novos mundos nos quais habitar

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A situação atual leva-nos a grande parte da sociedade, cada dia mais excluída, cada dia mais perseguida, cada dia mais pobre, a viver precariamente em cada vez mais aspectos de nossa vida. Já não somos precários só em nosso trabalho, toda nossa vida se rodeia dessa sensação de precariedade. É um circulo vicioso no qual vemos cada dia mais pessoas fadadas a cair; precariedade no trabalho; aumento do preço da moradia, só com fins especulativos; cada dia mais necessidades criadas pelo mercado que te oferece algum objeto novo e necessário sem o qual nos sentiremos mais excluídos. Uma situação que dá para poucas alegrias. E será que não as merecemos?

O controle estabelecido pela UE, como um manto pesado que nos cobre, a guerra global proclamada aos quatro ventos - que nos converte, além de pobres e precários, em suspeitos de tudo, mais ainda se somos migrantes - nos deixa imóveis com nosso fardo cotidiano. Uma situação que dá para poucas respostas. Ou talvez a solução seja mais fácil do que parece?

A desobediência é uma das melhores maneiras das que dispomos para liberar-nos do pesado manto do controle. Desobedecer é legitimar nossa existência, legitimar nossa vida e fazer-nos responsáveis por ela e nossos atos. Mas é uma ferramenta a que temos que dar forma entre todos e todas, criar os mecanismos que façam da desobediência algo cotidiano em nossa vida. Uma ferramenta que nos constitua como corpos desobedientes, para que nossos gestos cotidianos configurem uma força criadora e nova.

Mas nós não podemos ficar só dizendo: "desobedeçamos". Temos que criar, entre todos, formas cotidianas de fazê-lo, ferramentas cotidianas, fáceis de usar, que nos alegrem a vida e provoquem aos que nos provocam.

YOMANGO é um projeto de desobediência cotidiana. "Manguemos" (1) nessas grandes cadeias/redes de lojas que nos encarceram, que especulam na bolsa, que traficam com armas e com vidas, e que nos obrigam a comprar-lhes a preço de ouro o fruto do esforço de mãos escravas, de corpos sensíveis e mentes inteligentes. Manguemos para fazer a compra diária, manguemos a roupa que nós gostamos e nos faz sentir belos - ou será que não podemos nos sentir belos? -, manguemos esses objetos que nos alegram um pouco mais a vida, façamos isso sozinhos ou em companhia, com público ou reservadamente, acostumemo-nos a utilizar esses gestos cotidianos que abram novos mundos nos quais habitar.

YOMANGO é um projeto de livre circulação de pessoas e dos objetos que elas queiram utilizar, compartilhar, presentear, ou simplesmente mangar. A felicidade é difícil de definir, sobretudo quando se é pobre. Os espaços públicos cada dia mais se vêem reduzidos a ruas comerciais ou grandes shoppings, assépticos, onde a uniformização da sociedade por cânones marcados pela moda e pelo consumo fazem que seja muito mais visível nossa condição de precariedade, de migrante. Centro comerciais que concentram em seu interior o consumo e espaços de lazer e cultura; cadeias/redes de livrarias, cadeias/redes de cinemas, restaurantes. YOMANGO abre uma possibilidade de utilização diferente destes espaços. No momento em que entra num shopping com uma intenção diferente da de comprar, você se torna um alegre ator que interpreta um personagem de comprador, a visão do espaço muda totalmente, e portanto sua utilização. Isto pode chegar a liberar totalmente o espaço, utilizando-o para o que queira, sobretudo se sua atividade se desenvolve em grupo. Liberar os espaços públicos, reclamando sua gratuidade, sua utilização como espaço público num sentido real, sentir a liberdade de criar novos usos, novos mundos.

O roubo em shoppings não é algo novo, assim como o aspecto final de YOMANGO não o é. Se YOMANGO fosse só uma campanha de roubo em grandes áreas seria um conceito supérfluo. A diferença se baseia no fato de que YOMANGO cumpre e desenvolve várias funções: é uma proposta com sua argumentação teórico-política de confrontação, de desobediência aos esquemas impostos pelo consumo, nos reapropriando dos logos e da cultura que as grandes redes difundem para gerir nossas necessidades e desejos. Como marca comercial, YOMANGO tem seus catálogos, seus anúncios publicitários, suas campanhas de temporada, mas não vende nada de nada. Não produz nenhum objeto. YOMANGO sugere uma forma de vida, está desenhado para que qualquer pessoa ou grupo se reaproprie dele, como queira, onde queira, transformando-o, plagiando-o, ampliando-o. Trata-se de uma livre circulação de idéias que em sua evolução cotidiana nos fará mais livres.

YOMANGO

No shopping mais próximo de você.

Nota:

1. Manguemos: roubemos, furtemos (Nota do Tradutor).

Tradução de g. e Gérson de Oliveira

 

(ARQUIVO RIZOMA)

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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