Uma aula sobre "Mídia e terrorismo"

0
11:26

ESTE ARTIGO FOI DISTRIBUÍDO POR:

clip_image002

http://livrosbpi.com

CEL – Célula de Entretenimento Libertário

BPI – Biblioteca Pública Independente

Uma aula sobre "Mídia e terrorismo"

Noam Chomsky

"A guerra ao terrorismo é pura propaganda e os meios de comunicação, incluídos os europeus, fazem o jogo dos poderosos, desviando o público das questões realmente importantes”

"A guerra ao terrorismo é pura propaganda e os meios de comunicação, incluídos os europeus, fazem o jogo dos poderosos, desviando o público das questões realmente importantes." Não poupa palavras Noam Chomsky, lingüista, consciência crítica dos EUA e, a partir de hoje, também doutor honoris causa em psicologia. A honra lhe foi conferida pela Universidade de Bolonha: algumas horas antes da cerimônia, porém, o professor quis encontrar os estudantes da faculdade de Psicologia, que o homenagearam com uma acolhida muito calorosa. Na aula magna, dotada de 200 assentos, reuniram-se cerca de 500 pessoas. Ele não as decepcionou: durante a hora e meia que durou sua aula sobre "mídia e terrorismo", vestido de uma forma bem mais casual e descontraída do que as dezenas de professores presentes no evento, ele acusou a informação mundial e os governos de seu próprio País – também os predecessores de George W. Bush – elencando, rapidamente, fato após fato com um grande senso de provocação.

O caso Terri Schiavo, que nas últimas semanas deixou em segundo plano todas as outras notícias internacionais, foi tomado por Chomsky como exemplo de argumento que a propaganda quer tornar importante para manter o grande público desenformado a respeito dos outros assuntos. "Nesta minha viagem pela Europa, fiquei muito impressionado com a constatação do quanto os intelectuais europeus estejam subordinados à agenda política dos EUA. Se Bush, por puro cinismo político, decide que o caso Schiavo é o problema mais importante, todos os meios de comunicação europeus ficam inundados com o caso Schiavo", diz o professor. "Basta dar uma olhada aos jornais de hoje: La Repubblica, por exemplo, dedica cinco páginas ao assunto. Somente na página 18, em um pequeno artiguinho na parte inferior, fala-se do relatório da ONU que documentou como o número de crianças desnutridas do Iraque dobrou com a guerra. É essa a cultura da vida invocada por Bush?".
Desde o Iraque até John Negroponte, até algumas semanas atrás embaixador em Bagdá, e que acaba de ser nomeado super-chefe da inteligência estadunidense, o passo é breve. Chomsky o define "um dos mais importantes terroristas internacionais", pela sua atividade de embaixador em Honduras no começo dos anos oitenta, quando, no pequeno país da América Central, os EUA treinavam terroristas para combater o governo sandinista da Nicarágua. "Ainda hoje, já que os EUA se recusam de pagar os ressarcimentos ordenados pela ONU, 60 por cento das crianças nicaragüenses com menos de 2 anos de idade estão subnutridas". A conclusão? "Se realmente nos importássemos com a cultura da vida, nos preocuparíamos com essas crianças, não com Terri Schiavo. Mas se, para a cultura ocidental, a preocupação com o terrorismo é igual a zero, evidentemente, a preocupação com a cultura da vida é abaixo de zero".

Segundo Chomsky, para vender aos americanos a guerra contra o terrorismo ("quando um Estado a declara, significa que está pronto para cometer graves atos terroristas"), é necessário espantar continuamente o público. E o aparato midiático tem uma importância estratégica para preparar os conflitos: "Nos anos 80, dizia-se que os sicários da Líbia estivessem rondando por Washington, e em seguida, deu-se o bombardeio da Líbia. Em 1989, provocou-se uma histeria coletiva contra o narcotráfico, seguida pelo ataque ao Panamá. Para o Iraque houve a invenção das armas de destruição em massa: ainda hoje, 50 por cento dos americanos acredita que aquelas armas realmente existiam". Mas as verdadeiras ameaças à população, para Chomsky, são outras: "Nos últimos 25 anos, os salários reais nos EUA caíram. Aumentaram as horas de trabalho e foi limitado o direito à assistência de saúde. Se as pessoas se concentrassem nisso, o poder não teria mais um jogo fácil. Por isso tanto espaço é dado a acontecimentos como o de Terri Schiavo, que desviam o público dos problemas reais".

"O senhor acredita que os EUA atacarão o Irã?", pergunta um estudante. Chomsky é cético: "Quando se quer atacar um país, então não se fica anunciando os próprios propósitos por anos a fio, o que pode avantajar o outro". O ponto, para Chomsky, é outro: a invasão do Iraque e o chove e não molha com o Irã sobre o enriquecimento do urânio para fins nucleares ("Teerã tem todo o direito de fazê-lo, se for para fins pacíficos"), segundo ele, deixaram passar uma mensagem perigosa. "É claro que os EUA declaram guerra somente contra um Estado incapaz de se defender. Portanto, a lição para o resto do mundo é: vocês deveriam se dotar de defesas, para não serem atacados pelos EUA".


O último tema abordado por Chomsky é o futuro da ONU, posto em crise pela guerra do Iraque e pelo escândalo do programa Oil for Food. Para o professor, "o destino das Nações Unidas depende da possibilidade de que as nações ocidentais se tornem verdadeiras democracias. Nos EUA, ao contrário daquilo que os meios de comunicação querem fazer acreditar, a maioria do público apóia a ONU, quer que os EUA paguem suas dívidas junto à organização e até que abandonem o direito de veto. Dessa forma, se os EUA se tornassem uma democracia, o futuro da ONU seria mais promissor". Também, sobre o escândalo do Oil for Food, para Chomsky, a intervenção da propaganda de Washington é pesada: "Os meios de comunicação dão importância às dezenas de milhares de dólares que, talvez, tenham sido recebidas por um funcionário da ONU e pelo filho de Kofi Annan. Mas ninguém fala nada sobre os 15 bilhões de dólares que os EUA fizeram desaparecer do programa, compensando aliados como a Turquia e a Jordânia. Nem dos 18 bilhões para a reconstrução do Iraque, dos quais não existe mais qualquer rastro. Quem escreve qualquer coisa sobre isso? O objetivo é aquele de desacreditar a ONU, de todos os modos".

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

0 comentários: