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13:43

Queria ser uma harpa

e ser tocado pelos semi deuses imateriais.

Resoaria nos quatro cantos da atemporalidade

e me submeteria ao canto dos pássaros.

Ser harpa faria eu ser desejado pelas almas

dos elementos da natureza

e seria eu traduzido por mil línguas desconhecidas,

seria tocado pelas dedos das musas

e lagrimaria pelos litorais de mim como se oceano me tornasse.

eu na condição de harpa,

queria estar presente celebrando o nascimento de uma estrela

ou saida sublime do feto na hora suprema.

sendo harpa, até os ventos me roçariam com sua sabedoria

e eu sentiria doces calafrios por meus poros sonoros.

na madrugada ao descansar,

sonharia com canções assoviadas pelos solitários trovadores

ou no exato momento da inspiração,

serei parte íntima do artista gigantes de mãos invulneráveis.

Submetido aos cuidados da delicadeza,

eu como harpa me espalharia

e seguraria uma nuvem na palma das minhas Mao

e materalizado,

choraria nos ombros de deus.

 

João Leno Lima

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11:29

 

 

Hoje me sinto uma rua.

Sentindo como as teclas do piano ao ser tocado

pelo pianista mágico os passos montanhosos dos seres irreversíveis.

O balsamo frio que envolve as sombras.

Os minúsculos pés das crianças e sua estranha liberdade.

Os diálogos de cabeça para baixo dos amantes na esquina.

O toque pontiagudo dos cães indefesos

e o cheiro de vapor que se desprende

como fantasmas grisalhos das tardes pós chuva.

Sinto o toque prematuro das carruagens futurísticas da manhã.

A correria pálida das horas horizontais.

Ser uma rua é a perpetuação suprema do sentido que não existia;

O rumo inerte a mim mais presente a todos,

ser essa rua que desconheço-me agride e conforma-te,

converso com outras ruas e percebo suas aflições,

elas queriam não ter fim

mas as consolo acreditando que somos eternas ruas

que levam a extremidade onde os seres encontram novos sentidos

que os deixaram esperançosos,

confio que a rua que sou

é fundamental para as realizações mais perspicazes do dia.

Mesmo no cansaço do meio dia,

onde o sol impiedoso lembra-me

que a chuva virá para pentear meus cabelos asfalticos

e me perderei em sonhos que me levam a ruas inigualáveis

que terminaram de frente para o mar...

Mas agora, eu rua, adormeço...

Tantos sonhos passaram por mim,

tantos anseios,

tantas embarcações invisíveis

que dobraram a esquina e jamais voltei a sentir,

tantas tuneis e portas foram desbravadas

até que os seres passarem por mim,

eles que pouco se comunicam entre si

e tão pouco me percebem,

mas os sinto, desejo a eles sempre a melhor passagem,

consola-me saber quem me tocarão novamente

e serei importante como as coisas importantes despercebidas,

eu, uma rua, ouço os passos dos solitários no limiar da aurora

E adormeço no chão de mim.

 

 

João Leno Lima

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